Desde o primeiro dia que entrei a trabalhar como funcionária na papelaria, soube que ele seria minha perdição. Sua sonrisa era como um raio de luz em minha rotina de cadernos e cartolinas. “Só deixe-me entrar um pouco no seu coração”, me dizia com essa voz que prometia mais que palavras. E eu, ilusa, caí no jogo apenas da pontinha... Cada dia, entre estantes cheios de cadernos, cartolinas e sonhos escritos, me deixava levar por suas olhadas e apalpadelas furtivas, pelas promessas susurradas atrás de cada empilhamento. Ele, meu patrão, o dono do meu emprego e dos meus pensamentos mais secretos, jogava a ser o cavaleiro de uma dama de pele de ébano, mas em seu jogo, eu não era a princesa, era apenas um peão que ele desejava com luxúria. A pontinha nada mais, repetia cada vez que me via, e eu, como se fosse um mantra, me acreditava. Mas a pontinha se converteu em um dor que me fazia tremer e gritar, que me tornava louca e no qual caía dia após dia sem negar uma única vez. Vários dias depois, caí na conta de que não era amor o que ele oferecia, mas um passatempo cruel que deixava meu cu roto cada vez que ele me pedia. Agora, a papelaria se converteu em um labirinto de recordações, onde cada esquina me fala do que fazíamos de forma luxuriosa. A tinta dos lápizes não pode escrever meu desamor, e as folhas em branco refletem a história que nunca chegaremos a contar. Eu sou Darline, uma mulher de pele negra, nacionalidade haitiana, com um coração e um cu roto. E esta é minha história, um pequeno relato de desamor que começou com uma simples pontinha e terminou com meu ânus roto e alma partida.
3 comentários - A pontinha...