Breve fábula decoherente

Breve fábula decoherente

Ela acreditava que o mundo devia ser lógico e organizado, o método e a racionalidade haviam regido sua vida e se permitia certas licenças, nunca havia pensado em romper o orden daquela maneira.

-Te digo que sim, que é possível- dizia ele com a cabeça apoiada sobre suas pernas.
Ela riu enquanto acariciava a testa do homem, o reflexo de ambos no espelho do teto mostrava as marcas de um encontro que os haviam deixado distendidos e satisfeitos.

-A ver, explique novamente- pediu ela. Ele abandonou sua posição e se estendeu ao seu lado, ficaram suas cabeças juntas e seus olhos se encontraram no teto.

Com a seriedade de um discurso acadêmico brindado ao nu ele expôs sua teoria sobre a comunicação extrasensorial, garantia que se sonhamos ou pensamos intensamente em alguém, esse alguém pensará em nós e em determinado ponto as ondas dos nossos pensamentos interferem, é dizer, seus efeitos se somam e essas duas pessoas começam a pensar juntas.

Essa energia inmaterial ativa sutilmente sensações táteis que podem ser aplicadas ao sexo, e chega-se a produzir uma comunicação que transcende o plano físico.

-Sigue parecendo muito improvável, por que melhor não passamos ao físico e deixamos o esoterismo?- perguntou ela enquanto se montava sobre ele e recorria com a língua o torso e ventre, descendo até o membro do homem que materialmente respondia à consigna.

-Se despidiram um rato mais tarde e se comprometeram em se encontrar novamente uma semana mais tarde.

Esta vez, ela chegou à cita séria com ansiedade por formular-lhe perguntas que sua mente racional rechaçava.

Começaram o ritual de beijos e desvire-se, mas ela não pôde conter-se e lhe perguntou:

- Diga-me alguma coisa, o martes passado, cerca das dez da noite, você estava fazendo?

-E sorriu de forma burlona: O quê?... Não entendi... o martes... não sei, por quê?

Ela não queria dar o braço a torcer, se quedou em silencio avaliando se confessar ou não, enquanto ele tomava suas tetas e Lhe enchia de beijos e mordiscos. Entre grunhidos e suspiros, ela rogou: -Por favor, me diga... -Não, conte-me você, por que perguntas? exigiu ele. Dando-se por vencida, a mulher explicou: -Estava em casa, ocupada em levantar as coisas da mesa após jantar e de repente não pude sustentar-me em pé, me senti estranha, fui para a cama e... -E? Ele apressou-a enquanto a segurava com força como esperando que por fim se entregasse, toda sua atenção posta nas palavras que esperava. Ella continuou: -Então, fui me deitar e....tive um orgasmo muito forte...mas muito forte -Sem tocar? perguntou ele. A penetró nesse momento, pedindo que continuasse com o relato. Ela entre jadeos notou que não poderia seguir mantendo um discurso coherente, pois seu sexo não se resistia aos embates lentos e profundos que ele lhe propinava. -Sem me tocar, sem sequer tirar minha roupa -logrou contestar....E bem, não me resiste, quis desfrutá-lo até o fim, acrescentou. -Agora você segue pensando que é improvável? perguntou ele aumentando o ritmo. -Noooo suspirou ela enquanto sua vontade já não lhe respondia, porque nesse momento a invadia novamente o prazer essa sensação, agora de corpo presente e em sua mente havia uma tempestade. Siguieron o encontro praticamente em silêncio, os dois tratando de processar o que realmente sucedera. -Me alegra que pudiéssemos comprovar juntos, disse ele apenas, sem confessar se sentir um pouco abrumado também. Recém no momento de vestir-se a conversa tomou um tom mais relaxado ao sentir-se os dois, em certa forma como novatos frente a um novo mundo que se oferecia. Falaram um pouco sobre como havia sucedido, de detalhes...e, embora não soubessem para onde poderia levar esse tipo de experiência, ficaram de acordo em que valia a pena voltar a experimentar. Acordaram um dia e uma hora e começaram ambos a se pensar mutuamente, cada um em sua casa, sozinho, com o estímulo potente da imaginação. Funcionou muito bem, durante Um tempo, sensações muito fortes, uma experiência muito interessante que foi dando passo a sensações físicas inigualáveis no mundo real. Nada parecia poder interromper a aventura que se ia perfeccionando com a prática. Em cada encontro físico tratavam de chegar ao nível de compreensão que tinham à distância e com o tempo iam logrando cada vez menos. Um dia deviam reconhecer abrumados que cada gramo do seu corpo material se havia convertido em energia e já não tinham matéria para sentir um orgasmo.