A carta que nunca vais a ler... Até que chegastes à minha vida, crei que o desejo inevitavelmente se apagaria, que uma vez obtido o desejado, essa chama que nos motiva a alcançá-lo se apagaría. Mas com você descobri que não sempre é assim. Ensinei-me que há desejos que jamais se apagam, que nossos corpos sabem mais de nossas necessidades do que nós mesmos...
Meu corpo aprendeu, junto contigo, que, contrariamente a tudo o razoável, cada vez que estou com você tenho mais vontades de você. Terás notado que quando estamos num lugar público nos movemos e falamos com tão pouca naturalidade que qualquer observador atento se dará conta do nosso. O ar se espessa e nos queima, cada gesto e cada olhar esconde o que realmente estamos nos dizendo, cada roçada casual da nossa pele é um beijo já gozado ou por gozar que produz um aumento desse desejo. Meu desejo por você quanto mais satisfeito resulta mais apremiante.
Se estivermos sozinhos não existe espaço, tempo, realidade, somos apenas nós, tentando uma e outra vez aplacar a sede e a fome dos nossos corpos, das nossas almas que se encontraram no momento errado. Podemos apenas ser amantes por tempo incompleto, quando a vida nos deixa fugir, mergulhamos sem pensar, imersos em satisfazer e satisfazer-nos, tentativas gloriosas, encontros de sexo total, perfeito...
Quero que saiba que jamais pronuncio o teu nome, não sei se notaste, mas, mesmo nos momentos de maior paixão e quando a minha entrega é absoluta, me abstenho de te chamar. E não o faço porque sei que o dia em que o faça ficarei presa para sempre... Ambos sabemos, assim o pactuamos, o nosso seria sem pressões e sem compromissos. Mas apesar disso, cada dia a tua aposta aumenta... me proponho escapar, fugir, abstrair-nos da realidade. Eu sempre aceito os jogos mais impensados, sabes que por teu sexo sou capaz de seguir-te ao inferno.
Nunca vou enviar-te essa carta, mas quero que de algum modo saibas, intuas, sinta que todas as noites estás convidado para meus sonhos...