Un humilde relato

Se faz tempo que escrevo, mas não sou muito habituado a publicar meus escritos. Esta vez fiz algo que pensei estar bem para essa comunidade, que talvez funcionasse. Como todo movimento criativo contém um pequeno risco, o de se expor e ser criticado. 😬 Por isso, seja bem-vinda a crítica! Adicionei a canção como me sugeriram, este tema creo que tem muito a ver com o que escrevi, além disso eu adoro a banda! O que espero é que goste, saudações a todos!



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UM INFIERNO
E sonhar era algo que não muita gente se dava o luxo de ter nessa época.
Muito menos fazer isso desperto.
A lo sumo fantasiar e nem falemos de uma masturbação.
Nem curta, nem rápida, nem sequer triste, vergonhosa, dessas masturbações culpáveis.
Das vergonhas de um mesmo, das pesadelos que se tornam desejos sexuais.
Era tristeza o que habitava o solo prateado.
A desolação de ideias de todo tipo havia desembocado, inevitavelmente, no vazio de ilusões e consequentemente, em fantasias e desejos sexuais.
Já não mais recantos de boliches liberais cheios de mãos e bocas e sexos desesperados, procurando um lugar onde armar um ninho efêmero, passageiro.
De gente que assustada e vertiginosa se entregava ao desconhecido, a compartilhar sua mulher, seu marido com alguém anônimo mas omnipresente: sem esse alguém a queda livre não era possível.
Tampouco segredos susurrados ao ouvido enquanto a carne procurava entre mais carne escabullir-se de um a saber que demônios invisíveis.
Não havia mais lugar, o bondi da desesperação estava cheio e a máquina dos bilhetes não funcionava.
Fora na rua fazia frio e esse entumecimento havia chegado ao alma, após atravessar como um raiolaser o sexo, aquele mental e físico que todos tínhamos dentro.
Se havia levado consigo a esperança, os recordações, os anseios, sonhos de todo tipo.
Esses possíveis e dos outros, das sogas e mordazas, das humilhações secretas e incumpíveis, das corrupções absolutas e maravilhosas, desejos de violações tão profundos, escuros e secretos que o simples fato de saírem à luz destruiriam a consciência da vítima ocasional.
Desejos que poderiam desgarrar em um único movimento a alma mesma humana, um risco sem o qual não era possível viver.
E assim e tudo pudemos aprender a viver sem isso.
Dedicarmo-nos a respirar, já não mais na boca de outra pessoa, nem sobre sua pele ou sobre nossa saliva que havia traçado um mapa do tesouro invisível, secreto sobre a humanidade do companheiro eventual; respirar apenas, processar ar e converter em algo inútil e que sobrava. Já não mais carícias, nem das secretas nem das outras: maravilhosas, escondidas, proibidas, debaixo da mesa natalícia com um pé descalço, dessas que erizavam a pele em um único passo encantador. Não houve tampouco orgias maratonícas semeadas de transpiração e confusões e inseguranças magistrais. Não deixaram mais lugar para gente travestida nem sequer no terreno da imaginação, já extinta e fora de moda. Tampouco houve lugar nesse inferno particular para lacerações ni feridas latentes ni respirações entrecortadas por açoites aplicados com precisão macabra e paladar delicioso. Nos deixaram um infernozinho, de bolso; uma gaiola para a mente. Nos deixamos encerrar gostosamente, por medo a tudo e todos. Não seja coisa que isso de desfrutar se nos escape a vida.[/swf]

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