A espera da escuridão.
A espera da escuridão, Alejandra Pizarnik (1936-1972)
Ese instante que não se esquece,
Tan vazio devolvido pelas sombras,
Tan vazio rejeitado pelos relógios,
Ese pobre instante adotado por minha ternura,
Desnudo desnudo de sangue de asas,
Sem olhos para recordar angústias de antigamente,
Sem lábios para recolher o sumo das violências perdidas no canto dos sinos gelados.
Ampare-o menina cega do alma,
Ponha seus cabelos escarchados pelo fogo;
Abraça-o pequena estátua de terror.
Sinalize-lhe o mundo convulsionado aos seus pés,
Aos seus pés onde morrem as andorinhas
Tiritantes de pavor frente ao futuro.
Diga que os suspiros do mar
Encham as únicas palavras
Pelas quais vale viver.
Mas esse instante suado de nada,
Acocorado na caverna do destino
Sem mãos para dizer nunca,
Sem mãos para regalar borboletas
Aos meninos mortos.
Alejandra Pizarnik (1936-1972)
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